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Artista usa IA para criar seres híbridos e abordar o preconceito

Exposição de Giselle Beiguelman combina botânica e inteligência artificial para criar um "jardim pós-natural", além de abordar nomes ofensivos, racistas e misóginos dados às plantas

07/06/2022

Artista usa IA para criar seres híbridos e abordar o preconceito
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Por redação AIoT Brasil

Até o dia 18 de setembro, é possível visitar no Museu Judaico de São Paulo uma exposição bem diferente, em que a artista plástica e pesquisadora brasileira Giselle Beiguelman utilizou inteligência artificial para criar plantas imaginárias, apresentadas em imagens e vídeos. Ao mesmo tempo, a mostra Botannica Tirannica investiga a genealogia e a estética dos preconceitos embutidos em nomes populares e científicos dados a algumas espécies vegetais.

A inteligência artificial foi aplicada por meio de redes neurais generativas (StyleGAN), como explica Giselle: “Para tanto, estimulamos um curto-circuito nos parâmetros da IA, de modo a rever os sistemas de padrões do mundo ocidental, que classifica tudo em categorias e em pressupostos. Assim, ao mesmo tempo em que analisamos como parâmetros estéticos são criados a partir de preconceitos, usamos engenharia reversa para indicar caminhos para uma próxima natureza, sem categorias superiores dominando categorias inferiores”.

Na série Flora mutandis a artista criou com IA seres híbridos, plantas reais e inventadas, no que ela chamou de “jardim pós-natural”. Também foram produzidos com IA cinco vídeos, um para cada grupo de pesquisa, na série Flora rebelis, e um ensaio audiovisual de 15 minutos que aborda os fundamentos e os processos do trabalho de investigação, desde os princípios da  até o uso de tecnologia.

O destaque é o conjunto de imagens de espécies ditas “daninhas”, que recebem nomes ofensivos, preconceituosos e misóginos como orelha-de-judeu, maria-sem-vergonha, bunda-de-mulata, peito-de-moça, malícia-de-mulher, catinga-de-mulata, ciganinha e chá-de-bugre. A mesma lógica se observa em nomes científicos que utilizam termos como virginica e virginicum para designar flores brancas.

Um dos itens da exposição é a planta judeu errante (Tradescantia zebrina), título de uma narrativa medieval usada como propaganda nazista e que tem o mesmo nome em várias línguas, como alemão, francês e inglês, sendo uma das muitas expressões depreciativas usadas contra os judeus. Essa e outras obras fazem parte do conjunto denominado Jardim da Resiliência, que ocupa áreas externas e internas do museu.

A exposição é o resultado de uma pesquisa realizada durante um ano e meio que reuniu nomes de centenas de plantas que Giselle organizou em cinco grupos: antissemitas, machistas, racistas e discriminatórios com relação a indígenas e ciganos. “O patriarcalismo está entranhado no discurso científico. Na divisão binária das plantas criada por Lineu, há as ‘masculinas’, que têm órgão reprodutor masculino androeceu (do grego andros, homem), e são superiores às ‘femininas’, que têm gineceu (do grego gyne, mulher)”, explica a artista. “O modo como se nomeia o mundo é o modo como se criam as divisões e os preconceitos e se consolida o pensamento binário.”

A mostra também conta com obras do artista convidado Ricardo Van Steen, que produziu sete aquarelas inéditas, de estética naturalista e científica, em que retrata jardins imaginários a partir de cada um dos grupos de pesquisa. Felipe Arruda, diretor executivo do Museu Judaico, disse que o preconceito e a intolerância são temas centrais da experiência judaica ao longo da história: “A abordagem dessas temáticas pela produção artística contemporânea é um dos eixos basilares do museu, por isso a honra de expor a produção atual de uma artista com quase três décadas de uma inquieta atuação nas artes e na academia”.

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