Por redação AIoT Brasil

De repente, só se fala em DeepSeek, a nova inteligência artificial desenvolvida na China que provocou pânico nas bolsas de valores e perturbou a tranquilidade onipotente dos gigantes do Vale do Silício. À primeira vista, a jogada de mestre da IA chinesa parece ser a capacidade de, com um custo muito menor, desenvolver modelos de IA tão avançados que são capazes de concorrer em pé de igualdade com os gigantes norte-americanos que dominam o mercado, como o GPT-4 da OpenAI, o Llama da Meta e o Gemini do Google.

Aparentemente revolucionário, o novo modelo de IA foi desenvolvido pela DeepSeek, uma startup criada há apenas um ano pelo gestor chinês de fundos Liang Wenfeng, que, de alguma forma, conseguiu um avanço que surpreendeu o mundo. Seu modelo de código aberto gratuito R1 iguala ou supera as capacidades dos seus rivais muito mais famosos, mas a uma fração do custo. De acordo com a empresa chinesa, foram investidos apenas US$ 5,6 milhões para alimentar seu modelo básico de IA, muito menos do que as centenas de milhões, se não bilhões, que as empresas norte-americanas dizem que gastam em suas tecnologias de IA.

Além disso, a DeepSeek surgiu em um momento crítico, quando a tensão entre Estados Unidos e China e a guerra tecnológica entre os dois países se acirrou depois da posse de Donald Trump e suas pretensões hegemônicas. Isso acontece na sequência de uma série de tentativas dos Estados Unidos de restringir o fornecimento de chips de IA de alta potência à China, sob a alegação de preocupações com a segurança nacional. Porém, a DeepSeek foi supostamente capaz de alcançar seu modelo de baixo custo com chips de IA relativamente pouco potentes.

Os efeitos da divulgação do poder da DeepSeek foram devastadores. Por exemplo, na segunda-feira, 27, as ações da fabricante norte-americana de chips Nvidia desabaram na bolsa dos EUA, com queda de quase 17%, o que significaria uma perda de valor de US$ 589 bilhões – ironicamente, a DeepSeek utiliza os chips de IA menos avançados da Nvidia, os H800s.

Estimativas de jornais como a Folha de S.Paulo calcularam que os gigantes do Vale do Silício perderam nada menos do que US$ 1 trilhão em valor de mercado em um único dia. O Nasdaq Composite, índice de alta tecnologia dos Estados Unidos, caiu mais de 3%, com redução de 5,6% no conjunto das ações do setor tecnológico. As bolsas europeias seguiram o mesmo caminho, com pesadas perdas entre as empresas de tecnologia. Nos dias seguintes houve uma recuperação, mas os efeitos persistiram e a DeepSeek dominou o noticiário mundial.

Ainda na segunda-feira, o DeepSeek AI Assistance ultrapassou o ChatGPT como o aplicativo gratuito mais descarregado na Apple Store nos Estados Unidos. No entanto, a empresa limitou temporariamente os registros no final do dia, alegando a ocorrência de um ciberataque em grande escala aos seus serviços.

Ainda há algumas dúvidas no ar, a começar pela comprovação de que a DeepSeek gastou realmente menos de US$ 6 milhões para desenvolver sua IA ou se esse valor foi maior. Por outro lado, também há dúvidas a respeito das centenas de milhões ou bilhões investidos em IA pelas empresas de tecnologia norte-americanas, já que tudo é medido por contabilidade interna e existem muitos interesses em jogo.

De qualquer maneira, a chegada ruidosa da DeepSeek deixou claro que haverá uma mudança de paradigma no desenvolvimento de grandes modelos de linguagem (LLM) para aplicação em IA e IA generativa. De acordo com a avaliação mais recente, a startup chinesa provou que modelos mais simples e mais baratos são capazes de igualar os maiores e mais caros em capacidade e conquistar a confiança dos usuários – o que de fato interessa.