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21/11/202426/04/2021
Por redação AIoT Brasil
No extremo norte da Austrália a península de Cape York é um lugar remoto, isolado e paradisíaco, berço de três espécies de tartaruga ameaçadas de extinção por predadores como o porco selvagem, descendente dos animais de fazenda levados pelos colonizadores europeus há mais de dois séculos. Em uma única noite, um porco selvagem é capaz de destruir centenas de ovos de tartaruga de vários ninhos, sem que os guardas florestais possam agir a tempo, por causa das dificuldades de localização e acesso. Nas épocas de monções, nem mesmo veículos off-roads conseguem chegar às áreas em que as tartarugas nidificam.
Foi quando entrou em cena a inteligência artificial. Uma parceria entre a ONG aborígene APN Cape York, a Agência Nacional de Ciências da Austrália (CSIRO) e a Microsoft permitiu a realização de um programa inédito de monitoramento remoto dos ninhos e dos predadores, por meio de câmeras instaladas em drones e helicópteros que rastreiam as praias e registram milhares de imagens, processadas e analisadas com IA, aprendizado de máquina e computação em nuvem.
Com essas informações, em vez de apenas circular aleatoriamente em busca dos ninhos nas praias, os guardas florestais têm indicações precisas de onde devem instalar gaiolas, redes e cercas capazes de evitar a ação dos predadores – além dos porcos selvagens, os ovos e os filhotes de tartaruga são presa fácil também para cães selvagens chamados de dingos e lagartos goanas. “Com esse sistema, o que normalmente exige um mês de trabalho de monitoramento em solo leva apenas duas horas, usando um helicóptero ou um drone”, explica Justin Perry, da CSIRO.
E não se trata simplesmente de um programa de proteção animal. A iniciativa envolve questões culturais e tradições milenares dos povos que já viviam na região antes da chegada dos europeus. Por exemplo, APN, nome da ONG que lidera o projeto, é a sigla de Aak Puul Ngantam, que na língua nativa significa “o país do pai de nosso pai”. A organização mantém um corpo de guardas florestais do povo Wik e desde 2012 trabalha ao lado de pesquisadores da CSIRO na proteção de tartarugas das espécies hawksbill, flatback e olive ridley. “Nossa maior preocupação é com as olive ridleys. Seus ninhos são rasos, geralmente na praia, e não na vegetação das dunas. Então, ficam muito expostos à ação dos predadores. A boa notícia é que podemos fazer algo a respeito, e estamos fazendo”, explica Justin Perry.
O guarda florestal indígena Dion Koomeeta acrescenta: “Os porcos selvagens estão destruindo nossas praias, desenterrando todos os nossos ninhos de tartarugas. Quando chegamos lá, não há muitos ovos em um ninho. Agora usamos a ciência para proteger as tartarugas, para que nossa próxima geração possa saber como são. É uma coisa boa para as crianças aprenderem e, quando crescerem, poderem proteger a terra para a próxima geração”.
Calcula-se que a IA e o monitoramento remoto estão ajudando a salvar pelo menos 20 mil filhotes a cada temporada de desova. “Todo um ecossistema está sendo estabilizado. As novas tecnologias estão desempenhando um papel vital para tirar as tartarugas da beira da extinção”, diz Justin Perry. De acordo com a APN Cape York, o sistema desenvolvido em parceria com a CSIRO e a Microsoft tem potencial para ser aplicado em áreas de desova de tartarugas em todo o mundo.
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