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2026 será o ano dos produtos “AI-native”

Após um 2025 focado em eficiência, a indústria web se prepara para sites autônomos que se adaptam em tempo real ao usuário

03/12/2025

2026 será o ano dos produtos “AI-native”
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Por Felippe Kanashiro*

Esqueça as interfaces que você conhece. A internet está prestes a ganhar uma camada de consciência, com sites que mudam conforme o humor do usuário, suas metas ou o clima da cidade. Isso não é ficção, é o que começa a se desenhar para 2026.

O ano de 2025 foi marcado por uma corrida recorde para absorver a inteligência artificial, que deixou de ser um experimento para se tornar ferramenta de produção em massa. Após um ano focado na reação e na busca por eficiência, a indústria de desenvolvimento web se prepara para uma nova fase estratégica: a dos produtos AI-native”.

A nova geração de sites não será limitada a fluxos pré-programados. Eles serão construídos para aprender em tempo real, assumir novas tarefas conforme a demanda do usuário e se conectar a outros sistemas por meio de MCPs (uma espécie de “API para IAs”), integrando serviços de terceiros diretamente na própria plataforma.

Estamos deixando de lado a automação para entrar na era da autonomia digital. A diferença muda as regras do jogo: até agora, a IA ajudava o produto; agora, ela é o produto.

Do “fazer mais rápido” à “hiper-personalização 1:1”

Em 2025, o maior gargalo da IA não foi técnico, mas a falta de estratégia. Muitas empresas buscaram implementar IA pelo hype, sem clareza de qual dor de negócio precisava ser resolvida. O valor humano migrou da produção para a curadoria, visão de negócio e critério estético.

Agora, em 2026, a aposta não é mais em ‘fazer mais rápido’, mas em fazer o que antes era impossível com produtos ‘AI-native’, onde os agentes de IA estão no centro da experiência e não mais na camada de apoio. Em vez de usar IA apenas para responder dúvidas pontuais, os novos sites passam a orquestrar processos inteiros. Um agente não só informa o status de um projeto: ele percebe um atraso, acessa os dados da equipe, sugere um novo cronograma compatível com as agendas de todos e já registra os ajustes nos sistemas internos.

Em um cenário de varejo, um e-commerce com IA pode ir além da recomendação genérica. Ao receber a mensagem “vou viajar a trabalho para um lugar frio na próxima semana e não tenho roupa adequada”, a plataforma cruza previsão do tempo, estoque, histórico de compras e regras de frete para montar automaticamente um conjunto completo de peças, garantindo a entrega antes da viagem e já oferecendo opções de troca simplificadas.

O resultado é o fim das interfaces engessadas e o início da hiper-personalização 1:1, em que cada plataforma evolui com o comportamento de quem a usa.

O modelo híbrido: IA conversacional não irá substituir menus

Apesar da mudança, as interfaces conversacionais não irão substituir a navegação tradicional, mas coexistir com ela em um modelo híbrido. A IA conversacional será poderosa nas jornadas complexas, quando o usuário não sabe exatamente o que pedir ou precisa combinar várias ações em sequência, como renegociar um contrato, revisar condições de um serviço e gerar uma nova proposta dentro do mesmo fluxo. Já para tarefas muito objetivas, como emitir um boleto, acompanhar um pedido ou aplicar um filtro simples em uma lista, as interfaces tradicionais bem desenhadas continuam sendo mais rápidas e eficientes.

O futuro, portanto, não é de substituição, mas de convivência entre paradigmas: a fluidez da interação por linguagem natural combinada à objetividade dos sistemas tradicionais.

O dilema da autonomia: como evitar o “creepy factor”?

Toda revolução tecnológica traz dilemas. A personalização 1:1 aproxima o produto do usuário, mas também do limite entre o útil e o invasivo, trazendo à tona o famoso creepy factor. O desconforto não é gerado pelo uso da IA em si, mas quando ela é utilizada para tentar se passar por humana. A confiança do usuário começa a ruir quando a tecnologia finge que sente, pensa ou acha alguma coisa.

Com isso, transparência, clareza e controle serão os pilares de confiança digital em 2026. A linha entre ser útil e ser assustador é tênue, mas o problema não está na tecnologia. Alguns pontos cruciais de design para a nova era:

  • Clareza: o usuário deve saber quando e onde a IA está envolvida na experiência.
  • Explicação: o sistema deve fornecer pistas sobre o porquê de uma recomendação (ex: “sugerimos isso com base no seu uso recente”).
  • Controle: o usuário deve ter o poder de ajustar ou até desligar certos tipos de personalização.

Quanto mais inteligente e pessoal a experiência fica, mais direto e honesto o produto precisa ser sobre como e por que está fazendo aquilo. O avanço da IA, portanto, não elimina o papel humano; ele o redefine. Se 2025 foi o ano da aceleração, 2026 será o ano da inteligência com direção. O futuro não será de quem automatiza, mas de quem orquestra a autonomia, e é nesse ponto que o humano volta ao centro: como estrategista, curador e consciência da experiência.

*Felippe Kanashiro é head de produtos digitais da Sioux, empresa especializada em soluções digitais baseadas em IA

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#AI#e-commerce#IA#inteligência artificial#personalização#web

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