Não é a IA que vai tirar seu emprego, é a falta de qualificação
Segundo a McKinsey, a demanda por profissionais com competências em IA generativa deve superar a oferta em uma proporção de duas a quatro vezes até 2027
31/07/2025Por Marcelo Eduardo Cosentino
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A ascensão da inteligência artificial generativa vem provocando um misto de encanto e ansiedade. No setor de tecnologia, o receio é particularmente mais agudo: será que a própria IA vai tornar obsoletos os profissionais que a desenvolvem? Ferramentas e soluções desenvolvidas com base em IA estão automatizando tarefas antes consideradas técnicas e complexas, da redação de textos simples ao desenvolvimento de códigos complexos. Mas enquanto esse medo se espalha, os dados contam uma história diferente e mais preocupante.
Segundo aMcKinsey, a demanda por profissionais com competências em IA generativa deve superar a oferta em uma proporção de duas a quatro vezes até 2027. Já aBain & Company projeta que a procura por esse tipo de talento cresce 21% ao ano desde 2019 e que, nos próximos dois anos, os Estados Unidos terão uma demanda de mais de 1,3 milhão de profissionais qualificados, enquanto a oferta de especialistas deve ficar abaixo de 645 mil — uma lacuna de cerca de 700 mil pessoas. Aparentemente, em vez de uma crise de empregos, estamos diante de uma crise de qualificação.
Esse descompasso vem gerando um paradoxo difícil de ignorar. AManpowerGroup ouviu mais de 40 mil empregadores em 42 países e descobriu que 74% deles enfrentam dificuldades para encontrar talentos qualificados. Apenas 16% confiam na capacidade de suas equipes de tecnologia e 60% apontam as lacunas de competências como o principal obstáculo à execução de suas estratégias digitais. Enquanto isso, profissionais em busca de recolocação enfrentam frustrações crescentes, sem conseguir corresponder às exigências do mercado.
Um estudo realizado pela TOTVS recentemente, oPanorama IA nas empresas brasileiras, também identifica as principais barreiras à adoção da IA. No ranking, entre os principais fatores citados está a falta de profissionais qualificados (35%).
O problema não é novo, mas foi amplificado por três fatores. O primeiro é a velocidade com que as tecnologias de IA evoluíram, superando a capacidade dos sistemas tradicionais de educação e treinamento de acompanhá-las. Outro ponto é o aumento da complexidade envolvida no uso da IA, que exige dos profissionais não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades como pensamento crítico, adaptabilidade e responsabilidade no uso dos dados.
Empresas têm se mobilizado para não cair nesse mesmo paradoxo. Quando unimos o poder da IA à essência humana temos a chance de nos libertar das tarefas repetitivas e focar no que é mais significativo: criar, decidir, transformar. Na TOTVS, por exemplo, estruturamos uma área dedicada à Inteligência de Dados e IA (IDeIA), que lidera a transformação data-driven, promovendo comportamentos e atitudes em linha de uma companhia orientada por dados. A atuação desta diretoria está organizada em três pilares: governança de dados e IA, inteligência de dados e inteligência artificial.
O desafio que se impõe é claro: precisamos de um novo pacto entre empresas, profissionais e lideranças. Um pacto que reconheça que o aprendizado é contínuo, que o desenvolvimento de competências não é apenas um tema de RH, mas uma agenda de negócio, e que a IA, longe de ser uma ameaça, pode ser uma alavanca poderosa para quem estiver preparado para usá-la com discernimento.
No fim das contas, a IA não tira empregos. Quem o faz é a falta de preparo para conviver com ela.
*Marcelo Cosentino é vice-presidente de negócios para segmentos da Totvs