Lenovo e Nvidia nacionalizam produção de IA com foco em PMEs
Para reduzir a latência e democratizar o acesso à inteligência artificial para pequenas e médias empresas, a companhia inicia fabricação local de workstations e soluções de armazenamento
15/12/2025
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Por René Ribeiro
A corrida pela infraestrutura de Inteligência Artificial ganhou um novo capítulo no mercado brasileiro. Em evento realizado em São Paulo, Erick Pascoalato (foto), general manager de infraestrutura da Lenovo, abriu a apresentação com a informação que a Lenovo confirmou a nacionalização da manufatura de suas linhas de workstations de alto desempenho e soluções de armazenamento (storage) em sua planta de Indaiatuba, interior de São Paulo.
A estratégia, desenhada em parceria com a Nvidia, tem um objetivo claro: descentralizar a IA, tirando a dependência exclusiva de grandes data centers e levando o poder computacional para dentro dos escritórios das empresas brasileiras.
A produção local abrange as workstations ThinkStation P3 (Tower e Ultra) e a família de storage ThinkSystem DE Series. Segundo a fabricante, a operação local é a chave para reduzir prazos de entrega (lead time) e tornar os custos mais competitivos frente aos importados.
A democratização da IA via hardware
A movimentação visa atingir principalmente as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), que muitas vezes não possuem orçamento para grandes infraestruturas de nuvem.
Para Erick Pascoalato, general Manager da Lenovo ISG Brasil, a localização da manufatura vai além da logística; é uma estratégia de empoderamento do mercado local. O executivo destaca que os novos equipamentos funcionam como um catalisador para a adoção de IA no “mid-market”. Segundo Pascoalato, a proposta é oferecer uma estrutura pronta para inferência local, permitindo que empresas menores rodem aplicações inteligentes sem a complexidade de desenvolver modelos do zero ou a necessidade de manter data centers proprietários complexos.
O custo-benefício da IA na borda
Um dos pontos centrais do anúncio também foi a workstation PGX, desenvolvida para permitir o treinamento e ajuste de modelos de IA diretamente na mesa de trabalho (“desk-side”). Apesar de ser um lançamento, ela é a única desse anúncio que não será fabricada localmente. Ela é construída com o superchip Nvidia GB10 Grace Blackwell, oferece até 1 PetaFlop (1000 TOPS) de desempenho em IA, essa estação pode lidar com grandes modelos generativos de IA de até 200 bilhões de parâmetros.
Com 128 GB de memória de sistema unificada, os desenvolvedores podem experimentar, ajustar ou inferir a última geração de modelos de IA de raciocínio. Para dobrar o poder de computação, os desenvolvedores podem conectar dois sistemas ThinkStation PGX para trabalhar com modelos de IA ainda maiores, de até 405 bilhões de parâmetros.
Presente no anúncio, Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina, abordou a viabilidade financeira dessa tecnologia. Ao invés de focar no custo total de propriedade (TCO) elevado, Aguiar ilustrou a acessibilidade do hardware através de modelos de financiamento. Ele explicou que um cluster compacto com duas unidades PGX — capaz de rodar cargas de trabalho que antes exigiam um data center — pode ter seu investimento diluído em parcelas mensais acessíveis, na casa dos oito mil reais, viabilizando a tecnologia para orçamentos mais enxutos.
Aguiar também reforçou o posicionamento da Nvidia como uma plataforma completa, e não apenas uma fabricante de chips. O executivo salientou que a GPU é apenas uma peça da engrenagem; o valor real entregue pela companhia reside na orquestração de software e na arquitetura de rede que permite aos parceiros construírem seus produtos finais sobre essa base.
Dados: segurança e proximidade
O suporte a essa capacidade de processamento vem da nova linha de storage produzida em São Paulo. A lógica defendida pela Lenovo é a da “gravidade dos dados”: onde estão os dados, deve estar o processamento.
Marcos Café, diretor de soluções de data storage para a América Latina da Lenovo, argumenta que, no cenário atual, tratar os dados como o ativo mais precioso da organização é mandatório. Para ele, a eficiência da IA depende da eliminação da latência: a inteligência precisa rodar fisicamente próxima à fonte da informação, e não o contrário.
Café aponta ainda que a escalabilidade é o foco da nova linha nacional. A ideia é permitir que as corporações iniciem sua jornada de dados com setups de entrada e expandam a robustez da infraestrutura conforme a demanda cresce, sem rupturas tecnológicas. Mas, é importante dizer que essas estações não usam uma tecnologia da Nvidia chamada de GPU direct storage (GDS).
Café esclareceu que se trata de um alinhamento estratégico de portfólio. O executivo pontua que o GDS é um recurso voltado para infraestruturas de Data Center de altíssima complexidade, o que foge do escopo atual da manufatura local.
“Nossa missão com a linha ThinkStation P3 e o Storage DE fabricados aqui é atender o segmento de entrada e as PMEs. Priorizamos o custo-benefício para que essas empresas consigam dar o primeiro passo na IA com um investimento racional. A ideia é que o cliente comece com uma arquitetura básica e eficiente e escale para soluções mais robustas conforme a maturidade digital do negócio avance, sem encarecer essa ‘porta de entrada’ com recursos de nicho que não seriam utilizados neste momento.”
Perspectivas de Mercado
O movimento da Lenovo antecipa uma demanda reprimida. Com o mercado global de workstations projetado para ultrapassar US$ 126 bilhões na próxima década e o de storage caminhando para US$ 160 bilhões até 2028 , a empresa projeta um crescimento agressivo de dois dígitos no Brasil nos próximos dois anos. A nacionalização é a aposta final para garantir a liderança no fornecimento de infraestrutura para a economia digital brasileira.