Aplicações já permitem informar o consumidor sobre produtos alergênicos, rastrear a procedência dos alimentos e que pessoas com deficiência visual usem o smartphone para conferir informações em áudio
05/03/2025Por João Carlos de Oliveira
Tamanho fonte
Não é mais surpresa que o Brasil tem se destacado em aplicações inovadoras e cada vez mais úteis para a sociedade, tanto na comunidade dos negócios quanto entre os consumidores. Ao visitarmos eventos no exterior, não nos surpreendemos mais com as soluções e casos de sucesso apresentados nos pavilhões e nas visitas técnicas, já que temos exemplos similares e até mesmo superiores no nosso país.
É o caso, por exemplo, de empreendedores que desenvolveram aplicações para informar o consumidor sobre produtos alergênicos, rastrear a procedência dos alimentos do campo à mesa e até mesmo imprimir um QR Code com relevo para que pessoas com deficiência visual possam localizá-lo nas embalagens e apontar o celular para a transmissão de informações em áudio.
No setor de gestão e soluções que movimentam toda a cadeia de abastecimento, o trabalho de planejamento, execução e operação tem sido aprimorado ano a ano por aplicações que automatizam tarefas. Agora, contamos com o apoio inegável dos recursos proporcionados pela inteligência artificial. Aliada à inteligência humana e à nossa capacidade de transformar ideias em realidade, essa tecnologia impulsiona ganhos em produção, logística e varejo, o que beneficia tanto as empresas quanto os consumidores.
Um dos desafios da automação é tornar os alimentos mais acessíveis a um maior número de famílias brasileiras. Além disso, a redução de perdas no setor de alimentos pode amenizar a situação de insegurança alimentar severa que atinge 1,2% da população, segundo o “Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial”, publicado em 2024. O controle rigoroso das datas de validade e da gestão de estoques pode reduzir consideravelmente o desperdício, e essas tarefas já podem ser facilmente automatizadas com as soluções disponíveis no mercado. Ainda segundo a ONU, o Brasil perde cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos por ano, sendo 80% dessas perdas decorrentes de manuseio inadequado, transporte e falhas nas centrais de abastecimento.
Embora a inteligência artificial não substitua o trabalho humano no manuseio de produtos, a automação pode somar esforços para melhorar os resultados. A padronização na identificação de produtos desde a origem contribui para a rastreabilidade e garante que os alimentos cheguem ao consumidor com qualidade e preços mais justos. Esse processo auxilia a gestão logística para prevenir perdas e impactar positivamente a inflação dos alimentos.
Com cada avanço na rastreabilidade, o planejamento logístico, o controle de estoque e outros processos automatizados se tornam mais eficientes. Isso também promove o consumo consciente e sustentável. Na vanguarda dessa transformação, a identificação de produtos por meio de QR Codes impressos nas embalagens fortalece a comunicação entre fabricantes e consumidores, além de integrar toda a cadeia de abastecimento.
A “Pesquisa 2D – Brasil e Latam”, realizada pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil há pouco mais de um ano, avaliou o interesse das empresas da América Latina na adoção de QR Codes Padrão GS1 em substituição aos tradicionais códigos de barras, visando mais eficiência e agilidade em seus processos. Foram entrevistadas 110 redes de supermercados e 710 indústrias de diversos segmentos, incluindo alimentos, bebidas, cosméticos, vestuário e saúde. No Brasil, 43% das indústrias manifestaram interesse na rastreabilidade por meio de QR Codes, ou códigos 2D, buscando maior visibilidade na cadeia de suprimentos. Já na América Latina, a gestão de estoque foi a principal aplicação mencionada, sendo citada por 50% dos participantes.
Além disso, o engajamento do consumidor e ações de marketing foram apontados como principais objetivos da adoção dos Códigos 2D por 73% das indústrias brasileiras e 59% das latino-americanas. Outros benefícios citados incluem aprimoramento de embalagens, rastreabilidade, segurança, sustentabilidade, conformidade regulatória e prevenção de falsificações.
Essa movimentação ocorre em mais de 100 países onde a GS1 está presente. A expectativa é que, nos próximos anos, a maioria dos produtos disponíveis no mercado tenham suas embalagens adaptadas à essa tecnologia em âmbito mundial gradualmente. Isso vai permitir acesso a informações seguras e benefícios como a embalagem estendida, que possibilita ao consumidor obter dados adicionais pelo smartphone no momento da compra, aprimorando a experiência no ponto de venda.
João Carlos de Oliveira é presidente da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil