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De região atrasada a early adopter

Em entrevista ao AIoT Brasil, Nuno Ribas, VP de vendas e marketing da Alcatel-Lucent , fala sobre a mudança na percepção sobre a América Latina, aponta a liderança do Brasil na adoção de IA e os desafios de planejamento e regulamentação

14/01/2025

De região atrasada a early adopter
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Por René Ribeiro

Alcatel LucentO Brasil desponta como líder na corrida pela inovação em inteligência artificial  e internet das coisas  na América Latina (região que já foi vista como atrasada), segundo Nuno Ribas, vice-presidente de vendas e marketing da Alcatel-Lucent Enterprise. Em entrevista ao AIoT Brasil, Ribas analisou o cenário promissor da região, destacando a rápida adoção de novas tecnologias no país, apesar dos desafios burocráticos e de planejamento a longo prazo.

Ribas também destaca que a Alcatel-Lucent Enterprise aposta no potencial do mercado brasileiro, com foco nos setores financeiro, energia/utilities e saúde. E abordou questões cruciais, como a regulamentação da IA, a privacidade dos dados e a importância do desenvolvimento de talentos na área.

AIoT Brasil – Nuno, com sua vasta experiência internacional, como você enxerga o posicionamento da América Latina no cenário global de IoT e Inteligência Artificial em 2025? Quais os principais desafios e oportunidades?

Nuno Ribas: A América Latina sempre despertou curiosidade por ser vista como atrasada tecnologicamente. No entanto, minha vivência de quase 20 anos na região me permite afirmar que, nos últimos 5 a 10 anos, temos observado uma postura de early adopters para novas tecnologias. Nem todas as empresas têm acesso a essas inovações, claro, mas existe uma receptividade notável, uma disposição para experimentar e aplicar. No contexto específico de IA, IoT e produtividade para 2025, essa já é uma realidade palpável. Empresas já buscam soluções para otimizar seus processos e a IA desponta como um poderoso aliado nesse processo, embora ainda estejamos desvendando todas as suas nuances e aplicações.

AIoT Brasil – Falando em nuances, como o Brasil se compara perante a outros países da América Latina?

Nuno Ribas – Costumo chamar o Brasil de a “locomotiva da Alcatel-Lucent” na América Latina. O Brasil possui iniciativa, busca mais soluções do que outros países da região. O México busca uma regulamentação abrangente, enquanto a Colômbia adota uma postura mais aberta. Em números, comparando com outros países da América Latina, o Brasil lidera em investimentos em IA. Em uma pesquisa feita pelo IDC, por exemplo, o país lidera os investimentos em infraestrutura de inteligência artificial em 2024, chegando a aportes de aproximadamente US$ 240 milhões – ou 38% do total gasto pela região nessa área.

A pesquisa também mostra que, em 2023, a Argentina investiu aproximadamente US$ 45 milhões em IA, enquanto o México destinou cerca de US$ 100 milhões. Outros países, como Chile e Colômbia, têm investido entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões cada. Em termos percentuais, os investimentos em IA na América Latina são liderados pelo Brasil, seguido pelo México, Argentina, Chile e Colômbia.

AIoT Brasil – A questão da regulamentação da IA impacta a região? Vemos diferentes abordagens entre os países?

Nuno Ribas – Essa diversidade regulatória adiciona complexidade ao cenário. No entanto, a busca por soluções de IA e IoT é uma constante, impulsionada pela necessidade de gerenciar a crescente quantidade de dispositivos conectados.

AIoT Brasil – O Brasil, como a “locomotiva” da América Latina, se destaca nesse movimento?

Nuno Ribas – Sem dúvida. A velocidade de adoção e implementação de tecnologias no Brasil é impressionante. Observamos aplicações de IA em diversos setores, desde o financeiro e saúde até educação, energia e transportes. Um exemplo notável é a implementação de reconhecimento facial e IA nos sistemas de metrô de São Paulo, visando aprimorar a segurança e a experiência dos usuários.

AIoT Brasil –Essa solução parece promissora. Pode nos detalhar um pouco mais?

Nuno Ribas –O projeto, em fase inicial, visa utilizar a IA para entender a rotina dos usuários dentro e fora das estações, através da análise de dados provenientes das câmeras de segurança. Com isso, o metrô poderá otimizar seus serviços, oferecer opções de marketing direcionadas, analisando o público e até integrar-se ao sistema de transporte público da cidade, facilitando a vida dos passageiros. Em termos de segurança também, pois o sistema de reconhecimento pode reconhecer rostos e apontar rapidamente um suspeito para averiguação.

AIoT Brasil – E a questão da privacidade, como é tratada nesse contexto de reconhecimento facial?

Nuno Ribas –A LGPD norteia todas as nossas ações. Não realizamos a identificação facial dos usuários. O sistema analisa o comportamento, entregando dados anonimizados à Secretaria de Segurança Pública em caso de necessidade. O foco é aprimorar o fluxo de pessoas, otimizar a operação do metrô e oferecer informações relevantes para a gestão do transporte público, sempre respeitando a privacidade dos cidadãos.

AIoT Brasil – Mudando o foco, quais setores a Alcatel-Lucent Enterprise pretende priorizar em 2025 no Brasil e na América Latina?

Nuno Ribas – No Brasil, os setores financeiro, energia/utilities e saúde despontam como prioritários, devido à alta demanda por soluções de IA, Machine Learning e conectividade. Na América Latina, o cenário é similar, com foco em finanças, energia/utilities e indústria, impulsionados pela necessidade de otimização de recursos e tomada de decisão eficiente.

AIoT Brasil – E no âmbito do setor público, como vocês se posicionam?

Nuno Ribas –Nosso portfólio atende tanto empresas públicas quanto privadas, com uma divisão aproximada de 60% para o público e 40% para o privado na América Latina. A demanda por tecnologia no setor público tem crescido consideravelmente, especialmente em áreas como saúde, onde a conectividade e a IA podem aprimorar o acesso da população a serviços de qualidade.

AIoT Brasil – Quais os principais desafios de se trabalhar com o governo no Brasil?

Nuno Ribas –O principal desafio reside na falta de planejamento de longo prazo. A gestão pública, muitas vezes, limita-se a mandatos curtos, o que dificulta a implementação de projetos de grande envergadura, como os que envolvem IA e IoT. As regras de licitação e a burocracia também podem ser obstáculos, embora a legislação tenha evoluído para garantir maior transparência e agilizar os processos.

AIoT Brasil – Em um mercado com tantos players globais, o que diferencia a Alcatel-Lucent Enterprise?

Nuno Ribas – Dois pontos nos destacam: a vasta experiência de mais de 100 anos no mercado de tecnologia e a capacidade de adaptar nossas soluções às necessidades específicas de cada cliente. Não oferecemos apenas produtos de prateleira; trabalhamos em conjunto com o cliente para desenvolver soluções personalizadas, que atendam às suas demandas e impulsionem seus negócios. A compreensão profunda de como atuar nos mercados público e privado, adaptando os modelos de negócio e as soluções às suas particularidades, também nos diferencia.

AIoT Brasil –Como a Alcatel-Lucent Enterprise contribui para o desenvolvimento em IA e IoT no Brasil?

Nuno Ribas – Um exemplo de sucesso da ALE é o projeto desenvolvido em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), iniciado em 2023. A instituição, com mais de 19 mil alunos, 1,3 mil docentes e 13 campi, enfrentava dificuldades de conectividade devido à sua infraestrutura de rede desatualizada. Para solucionar o problema, a universidade investiu R$ 12 milhões em um projeto de modernização que incluiu a aquisição de 224 switches da ALE, por meio de licitação. A implementação dessa nova tecnologia possibilitou a conexão de todos os equipamentos da universidade, eliminando falhas e interrupções na rede e garantindo maior eficiência para a comunidade acadêmica.

AIoT Brasil – A Alcatel-Lucent Enterprise também possui um centro de treinamento ou capacitação para jovens aprendizes ou formandos que buscam emprego?

Nuno Ribas –A ALE oferece programas de treinamento e certificação abrangentes para clientes, parceiros e engenheiros, com o objetivo de capacitá-los a utilizar, vender, projetar e instalar soluções baseadas em seus produtos, formando profissionais qualificados para as diferentes soluções tecnológicas, como IA e IoT. E também investimos em programas de treinamento como a ALE Academy, que capacitam jovens talentos, desde estudantes universitários até profissionais em início de carreira. Oferecemos programas de certificação, intercâmbio em nossos centros de desenvolvimento na França e parcerias com universidades e clientes para promover a formação de profissionais qualificados em IA e IoT. Acreditamos que a educação e o desenvolvimento de talentos são pilares essenciais para o avanço tecnológico e social da região.

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#AI#America Latina#Brasil#IA#IDC#infraestrutura#inteligência artificial#IoT

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