Inteligência artificial em sala de aula: ameaça ou aliada?
IA tornou-se odiada e idolatrada na mesma medida e ganhou espaço nas discussões e atividades nas escolas. E posso garantir: evitar ou impedir a utilização é uma batalha inútil e fadada ao fracasso
20/07/2023
Por Joice Leite*
Poucos temas passaram de mera especulação ao uso cotidiano em tão pouco tempo. Tratada como “realidade longínqua” e “coisa de nerd” há pouco mais de um ano, a Inteligência Artificial (ou IA) já está entre nós, sendo aplicada de transações bancárias à assistentes de vozes domésticas. Ela logo tornou-se odiada e idolatrada na mesma medida e ganhou espaço nas discussões e atividades em sala de aula, com estudantes de várias faixas etárias começando a incorporar essa nova tecnologia à rotina escolar. Mas posso garantir: evitar ou impedir a utilização é uma batalha inútil e fadada ao fracasso. Então, como lidar?
Ter máquinas desenvolvendo tarefas de maneira autônoma sempre foi um desejo de cientistas e entusiastas, mas os estudos só ganharam força a partir dos anos 1950 do século passado, quando o termo “Inteligência Artificial” foi mencionado pela primeira vez por Alan Turing (1912 – 1954), matemático e cientista considerado pai da computação moderna.
Até então os avanços se deram de forma mais incremental, aperfeiçoando tecnologias desenvolvidas ao longo do tempo. Mas nenhuma delas chamou tanto a atenção quando o chatbot de inteligência artificial online desenvolvido por uma empresa americana em 2022. O Chat GPT logo impressionou cientistas, educadores e jornalistas, dentre outros, ao redor do mundo pela simplicidade da interface, a facilidade do uso e a qualidade das respostas.
Em tempos onde a tecnologia é introduzida no repertório desde a tenra infância, é natural que crianças e adolescentes também se entusiasmem com a novidade. A exemplo do que foi visto com a introdução da calculadora e da internet, a IA tornou-se uma espécie de aliada de estudantes em todo o mundo e nas mais diversas idades, nem sempre com o consentimento de pais e professores, vale ressaltar. Por isso, é preciso conhecer os aspectos positivos e negativos da tecnologia e buscar tirar o máximo proveito do que pode ser agregado à formação dos alunos.
Lembro que quando o assunto tomou os noticiários no ano passado, muitos professores, pais e alunos questionaram se a ferramenta poderia ser usada em sala de aula, se não iria comprometer o aprendizado, substituir profissionais e outras questões muito relevantes. A nossa postura no Colégio Porto Seguro foi de serenidade, de investigar melhor e aprender com a nova tecnologia. A mudança não foi brusca, apesar da velocidade. A instituição já possui experiência no uso de novas tecnologias aplicadas ao ensino e aprendizagem, foi a primeira escola a oferecer aulas semanais de letramento digital no período regular.
Então, no começo do ano, realizamos uma pesquisa interna com 682 professores de Ensino Fundamental e Médio, dos quais 390 responderam (57%). Destes, 82% entendem que a IA não deve ser proibida na escola, e 99% dos entrevistados disseram concordar com o uso da IA como ferramenta de apoio às atividades escolares.
Decidimos, portanto, incorporar o tema ao currículo de Letramento Digital e preparar os alunos para lidar com a ferramenta em seus projetos, pesquisas e atividades complementares, sempre com a orientação dos professores. Para isso, mais do que nunca, precisamos dos professores para fazer a orientação crítica dos alunos, para dar a ponderação sobre temas tão sensíveis e isso é uma habilidade humana, não do robô.
Saber o que e como perguntar ao Chat GPT, por exemplo, pode garantir resultados melhores e mais contextualizados, e isso quem garante é a própria empresa desenvolvedora. Essa tarefa é similar à dos professores frente aos questionamentos éticos envolvidos no uso do chatbot em em sala de aula. O professor acompanha o dia a dia e sabe bem o potencial e a entrega de cada aluno, portanto, se ele percebe alguma produção que diverge do usual, busca o aluno e conversa.
Na grande maioria dos casos em que o uso da IA transcende a barreira ética, o aluno assume a postura e corrige o comportamento. Os professores também seguem essa linha, utilizando o chat GPT na busca de referências acadêmicas e na elaboração de questões para atividades em sala, respeitando as questões autorais e éticas, por exemplo.
A Inteligência Artificial é poderosa e chegou para ficar, inclusive na sala de aula. Mas uma peça desse tabuleiro está longe de mudar: o robô tem muitas especialidades de agilidade, de conectar palavras, algoritmos, números, dados e uma série de coisas que ele consegue articular muito mais do que a capacidade humana tem compreensão e consegue fazer. Entretanto, na hora de fazer essa mediação de processo criativo, de orientar comportamentos e, de fato, construir uma sociedade mais ética, quem tem que fazer isso somos nós, humanos.
*Joice Leite é diretora de educação digital do Colégio Visconde de Porto Seguro, Mestre em Educação, Currículo e Novas Tecnologias
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#algoritmos#chatbot#ChatGPT#inteligência artificial#Letramento Digital
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