AiotAiot


“Tudo o que se move vai ser autônomo”

Marcio Aguiar, diretor da área de enterprise da Nvidia, fala sobre o investimento em IA e na robótica e aborda o forte crescimento da companhia no Brasil e no mundo

28/02/2024

“Tudo o que se move vai ser autônomo”
Tamanho fonte

Por Daniel dos Santos

Recentemente a Nvidia superou as expectativas do mercado com o anúncio de um lucro líquido de US$ 12,2 bilhões no quarto trimestre de 2023, um crescimento impressionante de 769%. “Os resultados financeiros da Nvidia impulsionaram o S&P 500 a atingir novos recordes, refletindo o impacto das empresas de tecnologia nos mercados globais”, explica Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital.

O AIoT Brasil conversou com o principal executivo na América Latina da nova “queridinha de Wall Street” para saber quais são as expectativas da companhia para o Brasil em 2024 e o que deveremos ver de novo no mundo da IA.

 AIoT BrasilComo você viu o ano de 2023 para a Nvidia no Brasil e no mundo e quais são as perspectivas para 2024?

Marcio Aguiar, diretor da divisão de enterprise da Nvidia para a América Latina – 2023 foi realmente um ano que surpreendeu a todos nós da indústria pelo ritmo de crescimento. E 2024 deve seguir nesse mesmo ritmo.

AIoT Brasil – Estamos falando de dados globais?
Marcio Aguiar – Estamos falando global. O Brasil tem crescido nesses últimos três anos, em média, entre 18% a 22%. O que acontece é que muitas das nossas vendas foram para a nuvem, foram para os CSPs e ali a gente não tem esse controle, porque são informações que não são necessariamente divulgadas conosco. Então quando eu olho, eu diria até que esse crescimento é muito maior do que eu estou falando. Porque eu estou só me baseando nas vendas de soluções on-premise, ou seja, foram comprados novos servidores físicos, mas nesse meio tempo, muita coisa foi para a nuvem.

Então a gente tira um cálculo baseado na quantidade de GPUs que as grandes empresas compraram e faz um cálculo quanto será que trouxeram para o Brasil. Mas uma grande maioria dos nossos clientes que está trabalhando com IA, aqui no Brasil, ainda continuam comprando servidores, porque ainda para eles é mais economicamente viável.

E a gente até orienta, apesar da nuvem estar pronta, que esse seu volume pode ser que te custe um pouco mais. Na verdade, eles decidem, nossa função é orientá-los. E orientando bem, a gente continua vendendo bem, porque ele está vendo que a gente está sendo bem transparente com a demanda computacional que nós temos.

AIoT BrasilE 2024 aqui no Brasil começou bem aquecido?
Marcio Aguiar – Já começou bem aquecido também em virtude de alguns projetos que estavam para sair no ano passado e que também houve essa questão de mudança de governo, então muitos orçamentos federais foram parados para novas avaliações e agora nesses últimos meses eles têm acontecido com uma má frequência.

AIoT Brasil Na última CES vocês anunciaram várias soluções importantes. Qual destes anúncios foi o mais importante e como ele impacta o mercado brasileiro? Marcio Aguiar – Foram três anúncios, um foi das novas GPUs voltadas para gaming, como a gente sempre anuncia, porque é um evento que tem essa prioridade do consumidor final. A outra, obviamente, a gente segue evoluindo na área automotiva, então também a CES pegou bastante esse viés de auto, automóvel inteligente.

São vários novos softwares surgindo, vários novos componentes para a indústria automotiva se tornar mais eficiente. O mais expressivo da nossa divisão corporativa foram os anúncios na área de robótica. A gente está dando um foco muito grande em seguir otimizando as plataformas na área de robótica, porque sabemos que o mundo vai ser muito automatizado. Tudo que se move vai ser autônomo.

Então a Nvidia tem investido bastante nessa nossa plataforma de robótica, que é uma plataforma que atende a várias indústrias. A primeira tem sido a automotiva, usando bastante esses robôs com capacidade de percepção, com capacidade de interagir melhor com o ser humano, com capacidade de sentir a expressão do ser humano através de técnicas de visão computacional, então a tendência é isso só aumentar. E a gente está muito bem posicionado porque é um ecossistema muito grande que a gente já tem.

O que temos visto são as empresas pensando “ok, se isso aqui tem poder computacional, eu vou botar mais e mais para estressar ao máximo o uso dessa plataforma”.

AIoT BrasilNa área de robótica, o Brasil está bem posicionado? Ainda tem que evoluir muito?
Marcio Aguiar – Ainda tem que evoluir. Esse é o nosso desafio, as nossas plataformas estão sempre na vanguarda e até você mudar o conceito dessa turma que está desenvolvendo, demora. Então a gente já vê, já tem uma venda mais expressiva da nossa plataforma Jetson, mas ainda muito atrás, por exemplo, de países como o Japão, de países como a Alemanha, que já têm um berço de manufatura muito grande.

AIoT BrasilVocê acredita que é uma questão mais cultural, de convencimento?Marcio Aguiar – É a falta de conhecimento por parte das pessoas que estão envolvidas nisso. Há muitos anos as pessoas usavam as plaquinhas mais simples de automação industrial, que não têm tanto poder computacional como o que a IA exige. Mas essas placas são excelentes para treinar aqueles jovens cientistas nessas técnicas de processamento de dados. Mas elas não têm o poder computacional como a nossa plataforma Jetson. Mas em termos de valores é muito similar. Eu diria que a nossa plataforma deve ser 15% mais cara. São produtos de 59 dólares, 69 dólares, mas que se a pessoa não sabe, acha que a Nvidiaé muito cara. Não é. Então é por isso que eu falo, nós da divisão corporativa da Nvidia, eu vou ter a minha linha Jetson, que é a linha de desenvolvimento dessa área de robótica, o Nano Kit, que é o menor Jetson que tem, mas que tem muito poder computacional e custa 49 dólares.

AIoT BrasilParece bem acessível…
Marcio Aguiar – E para isso a gente oferece cursos para o pessoal ter conhecimento e colocar em prática no hardware, cursos gratuitos, só que poucas empresas utilizam. Algumas montadoras eu já vejo que começam a fazer convênio com universidades, para que essas universidades ensinem mais sobre a plataforma Jetson, para que eles depois possam aplicar na indústria, mas ainda é bem tímido.

AIoT BrasilTemos visto vários anúncios ligados à inteligência artificial na indústria automotiva. A indústria automotiva é a que melhor está abraçando a inteligência artificial?
Marcio Aguiar – Do ponto de vista do mercado consumidor, que atinge milhares de pessoas, sim. Mas a gente tem bastante penetração na indústria financeira, indústria de saúde, de energia, mas dentro da CES, por exemplo, ela se tornou. O veículo autônomo virou algo como se fosse quase que um brinquedo, uma commodity, vamos dizer assim. Então você vê muitas companhias chinesas, elas foram muito mais ágeis e rápidas e saíram à frente das grandes montadoras americanas e alemães. Então você vê hoje em dia várias marcas de carros e aviões chineses que estão ali usando esses novos conceitos de inteligência artificial.

AIoT BrasilNa área de IA, o que você acredita que vai mudar em 2024?
Marcio Aguiar – Olha, serão novas técnicas para aprimorar cada vez mais o desenvolvimento de dados usando a IA generativa. Então a IA generativa está no início também, só que a gente está começando também a desenvolver novas técnicas para melhorar essa geração de imagens usando o IA. Imagens de texto, de tudo.

AIoT BrasilQuando você fala em novas técnicas, você se refere aos dados sintéticos?
Marcio Aguiar – Também. As pessoas agora já entenderam o que é a IA generativa e elas agora começam a olhar para dentro das suas necessidades. Ou seja, uma companhia, uma organização, ela tem diferentes necessidades para usar essas técnicas de IA generativo. Então uma delas também é a questão de como limitar o uso desses meus dados que eu tenho para serem treinados para que eles realmente me tragam informações relevantes sobre o meu negócio. Ou que não dê uma informação do meu concorrente, se um cliente perguntar sobre o meu produto. Então você está criando ali fronteiras, mas é necessário criar essa fronteira para você poder ter uma melhor assertividade no processamento dos seus dados.

Outra técnica é você usar, antecipar uma possível situação usando IA generativa para que você, “opa, isso aqui eu vou evitar que aconteça”. Teremos muitas várias variáveis agora com o intuito de seguir sendo cada vez mais assertivos. Também tem a questão de processamento de linguagem natural. E o treinamento de grandes modelos de linguagem que a gente vê hoje. Eles vão cada vez se refinando mais e também ficando mais complexos. Não dá para dizer que isso não é novo. Porque você está dando mais tarefa, mais dados e para isso é preciso se reinventar.

TAGS

#automação#automóveis#bolsa#carros autônomos#ces#Equus Capital#GPU#IA#Jetson#Nvidia

COMPARTILHE

Notícias Relacionadas