Por Ricardo Marques da Silva

O presidente norte-americano Donald Trump assinou na quarta-feira (24/07) as ordens executivas para o lançamento do seu programa “Vencendo a Corrida da IA: Plano de Ação de IA da América”, que se destina a manter os Estados Unidos como líder global na tecnologia por meio de iniciativas “sem viés ideológico”. Porém, a imprensa mundial quase em peso apontou uma incoerência flagrante: o que define o plano é exatamente seu viés ideológico, na medida em que se caracteriza por ser contrário à regulamentação do uso da tecnologia, à proteção ambiental, à diversidade e à inclusão e a favor das big techs.

Veículos como os jornais The New York Times e The Guardian, a rede de TV CNBC e vários outros se concentraram justamente no caráter “anti-woke” do programa, referindo-se ao termo que se popularizou nas redes para definir a consciência a respeito de questões relacionadas à justiça social e racial. O britânico The Guardian destacou: “‘De uma vez por todas, vamos nos livrar do woke’, disse Trump, arrancando aplausos calorosos da plateia de líderes da indústria de IA. Em seguida, afirmou que seu antecessor, Joe Biden, havia ‘estabelecido a ideologia tóxica da diversidade, da equidade e da inclusão como princípio norteador do desenvolvimento da IA americana. Então você soube imediatamente que aquele era o fim do seu desenvolvimento’, disse ele, provocando risos”.

O NY Times afirmou que o plano beneficiará diretamene as grandes empresas de tecnologia norte-americanas que disputam o mercado de IA generativa. Por sua vez, a CNBC observou: “A eliminação gradual de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) – um termo que abrange diversas práticas, políticas e estratégias destinadas a promover uma cultura mais inclusiva e equitativa – tem sido um dos principais focos do segundo governo Trump. Agora, a Casa Branca está trazendo a batalha para a IA”.

De acordo com a CNBC, as ordens executivas de Trump surgiram depois que as empresas de IA Anthropic, Google, OpenAI e xAI assinaram contratos com o Departamento de Defesa de até US$ 200 milhões para acelerar a adoção de recursos avançados de IA e enfrentar desafios críticos de segurança nacional. “A redação da ordem anti-woke parece estar alinhada com muitas das mensagens da xAI, que é comandada pelo ex-assessor de Trump e megalomaníaco Elon Musk. O chatbot de IA da empresa, Grok, tem sido anunciado como uma inteligência artificial ‘anti-woke que busca a verdade ao máximo’”, disse a rede.

Em resumo, o plano se baseia em três eixos: acelerar a inovação, desenvolver a infraestrutura de IA nos Estados Unidos e transformar o hardware e o software norte-americanos na plataforma padrão para inovações. Caberá à Administração de Serviços Gerais do governo norte-americano a responsabilidade pela elaboração das regras e pela avaliação de modelos de IA que não as cumprirem.