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05/11/202425/11/2024
*Imagem: Reprodução
Por Ricardo Marques da Silva
Depois de apenas dois meses de casa, Kai e James perderam o emprego. Mas não há motivo para lamentações, já que a dupla “demitida” era formada por um casal de apresentadores virtuais gerado por inteligência artificial, que foi usado em uma experiência que pretendia colocá-lo no lugar de pessoas reais em um noticiário transmitido pela internet.
O caso aconteceu no estado norte-americano do Havaí, numa iniciativa do jornal The Garden Island, controlado pela Oahu Publications (OPI), com tecnologia desenvolvida pela empresa israelense Caledo. James e Kai, chamada também de Rose, foram anunciados com muito barulho, com o objetivo de expandir o uso de avatares para centenas de outros jornais regionais em todo o país, para engajar seu público. Apesar do aparente fracasso da ideia, a Caledo disse que manterá o plano.
A mídia não deixou passar em branco a demissão dos apresentadores de IA, que ganhou repercussão internacional e, na maioria das vezes, foi alvo de zombaria. O portal Wired, por exemplo, publicou uma matéria assinada por um jornalista que já havia trabalhado no jornal havaiano, com este título irônico: “O repórter de IA que assumiu meu antigo emprego acabou de ser demitido”.
O jornalista explicou que o Garden Island tinha poucos recursos, e durante boa parte do tempo em que trabalhou lá ele era um dos dois únicos repórteres cobrindo uma ilha de 73 mil habitantes. “Embora a OPI tenha se recusado a fazer mais comentários e a Caledo tenha declarado que o programa era um sucesso, sem dar mais detalhes sobre esse cenário específico, parece provável que uma resposta pública amplamente negativa tenha influenciado a decisão de encerrar a permanência de James e Kai no The Garden Island”, disse.
O repórter observou ainda que James, um homem asiático de meia-idade, e Kai, uma ruiva mais jovem, nunca conseguiram descobrir como apresentar as notícias de uma maneira que não fosse profundamente desagradável para os espectadores. “O programa deles, que era exibido duas vezes por semana no YouTube, no Facebook e no Instagram, cobria tópicos tão variados quanto uma oferta de abóboras de outono e uma vigília por um massacre trabalhista — tudo no mesmo tom distante e prático de robôs incapazes de compreender emoções humanas”, acrescentou.
A crítica da Wired prossegue: “Eles massacraram nomes havaianos difíceis e até tiveram dificuldades surpreendentes com palavras muito mais simples. Em sua transmissão final em 4 de novembro, enquanto discutiam um campeonato de carabina de ar comprimido, Rose inexplicavelmente substituiu a palavra ‘rifle’ por ‘árbitro’. Nos meses polarizados que antecederam a eleição nos Estados Unidos, a dupla conseguiu inspirar o desprezo visceral dos dois partidos. Os comentários sobre os vídeos foram quase universalmente negativos”. Pelo visto, ainda não foi dessa vez que a IA generativa obteve um sucesso de verdade na tentativa de substituir o trabalho humano.
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