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IA e deepfakes perturbam a eleição no país mais populoso do mundo

Maior evento da democracia do planeta, pleito na Índia sofre os efeitos das informações falsas que confundem a campanha e os eleitores

20/05/2024

IA e deepfakes perturbam a eleição no país mais populoso do mundo
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Por Ricardo Marques da Silva

Com mais de 960 milhões de pessoas aptas a votar, as eleições gerais na Índia representam o maior exercício democrático do mundo. Neste ano, não bastassem o calor excessivo que afasta os eleitores das urnas e o complexo processo de votação, que se estende por seis semanas, está ocorrendo um problema novo e ainda mais crítico: a disseminação de informações falsas por meio de recursos de inteligência artificial e deepfake.

No lugar da discussão das propostas e ideias dos candidatos, o que mais repercute no país, neste momento, é uma nova geração de agentes políticos experientes em tecnologia que aproveita a IA para criar conteúdo falso. Nessa guerra eleitoral, estão sendo utilizados desde vídeos e áudios manipulados até mensagens que simulam a imagem e a voz de políticos e celebridades indianas.

Atualmente, o processo eleitoral está na segunda de sete fases, iniciadas em 19 de abril e com prazo de encerramento em 1º de junho. É esperado que o primeiro-ministro Narendra Modi e o seu partido BJP (Bharatiya Janata Party, ou Partido do Povo Indiano) vençam as eleições, mas o uso em massa de IA pode interferir nos resultados.

Em entrevista à BBC britânica na quinta-feira, 16 de maio, Sy Qureshi, ex-comissário-chefe das eleições do país, fez esse alerta: “Os rumores sempre fizeram parte da campanha eleitoral. Porém, na era das redes sociais, a desinformação pode se espalhar como um incêndio. Isso pode realmente colocar fogo no país.”

Entre os exemplos do uso de IA estão dois vídeos virais divulgados em abril, no qual os atores de cinema Ranveer Singh e Aamir Khan, famosos na Índia, supostamente faziam campanha para um partido de oposição. Logo em seguida, ambos apresentaram queixa à polícia dizendo que se tratava de deepfakes feitas sem o consentimento deles. No dia 30, a polícia prendeu duas pessoas, uma do partido de oposição Aam Aadmi, como responsáveis por um vídeo adulterado em que aparecia o ministro do Interior, Amit Shah.

Outro episódio, ainda mais chocante, envolveu um vídeo de uma mulher de meia idade apresentada como sendo Duwaraka, filha de Velupillai Prabhakaran, chefe do Tigre Tamil, uma organização política que luta pela criação de um estado independente. O problema é que Duwaraka morreu há uma década, aos 23 anos, nos últimos dias da guerra civil no Sri Lanka, e seu corpo nunca foi encontrado.

De acordo com alguns analistas políticos, a preocupação é a possibilidade de que, com a crescente sofisticação das ferramentas de IA, a tecnologia vá influenciar, além da Índia, outras eleições marcadas para este ano em democracias com número elevado de eleitores, como o Brasil e os Estados Unidos. Na Índia, assim como no Brasil, ainda não existe uma regulamentação específica e rigorosa para impedir que as notícias falsas se espalhem e contaminem as eleições.

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