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18/11/202406/11/2023
Por Ricardo Marques
Normalmente, para descobrir quais espécies de pássaros, anfíbios e mamíferos vivem em determinada área de florestas tropicais, é preciso paciência e muito esforço para se embrenhar na mata em busca de rastros e avistamentos. Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Würzburg, na Alemanha, quer provar que esse trabalho pode ser feito de maneira mais fácil e precisa, com uma ajuda óbvia: a inteligência artificial.
O estudo, publicado em outubro na Nature Communications, propõe a criação de uma ‘paisagem sonora’ em que um pássaro, por exemplo, é identificado pela gravação do seu canto, por meio de ferramentas de IA. De acordo com os cientistas, esse recurso pode ajudar a quantificar a biodiversidade nas florestas tropicais e apoiar os projetos de preservação.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores utilizaram IA para analisar 43 áreas em diferentes estágios de conservação em Chocó, uma região do Equador conhecida pela rica biodiversidade. Foram instalados gravadores em florestas virgens, em terras desmatadas para pastagem e plantações de cacau e em matas devastadas nas quais a vegetação começa a crescer de novo.
Com base nos arquivos de áudio, os especialistas em análise bioacústica conseguiram identificar 183 espécies de aves, 41 de anfíbios e três de mamíferos. As gravações foram alimentadas por um modelo de IA chamado rede neural convolucional, já usado para identificar o canto dos pássaros.
Jörg Müller, que liderou a equipe de cientistas, afirmou: “Nossos resultados demonstram que a IA está pronta para uma identificação mais abrangente de espécies nos trópicos, a partir do som. Tudo o que é necessário agora são mais dados coletados por humanos para o treinamento da IA”.
A ferramenta foi criada para analisar grandes quantidades de dados, monitorar ecossistemas e indicar tendências e mudanças ao longo do tempo. Com isso, também será possível reforçar o trabalho de proteger espécies ameaçadas. “Sem a IA, nunca alcançaremos as metas da ONU para a proteção de espécies ameaçadas”, disse Carl Chalmers, um especialista em aprendizado de máquina da Conservation AI, uma organização sem fins lucrativos com sede no Reino Unido, que usa a tecnologia em vários projetos ecológicos.
De acordo com a Nature, pesquisadores da Conservation AI desenvolveram modelos de IA, drones e câmeras para captar imagens capazes de rastrear os movimentos dos animais e identificar espécies criticamente ameaçadas. “Eles construíram uma plataforma online gratuita que usa a tecnologia para analisar automaticamente arquivos de imagens, vídeo ou áudios, incluindo registros de armadilhas fotográficas em tempo real e outros sensores. Os usuários têm a opção de serem notificados por e-mail quando uma espécie de interesse for detectada nas imagens”, explicou a publicação científica.
Somados à pesquisa liderada por Jörg Müller, esses recursos são capazes de reforçar o trabalho dos cientistas dedicados a estudar e preservar a biodiversidade global. Segundo a Nature, cerca de 1 milhão de espécies se encontram à beira da extinção. Em resposta, as Nações Unidas estabeleceram uma meta em 2020 para salvaguardar pelo menos 30% das terras e oceanos da Terra até o final da década.
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