Espetáculo do grupo Os Satyros usa IA no lugar de atores
Só restam duas chances para assistir à “Peça para salvar o mundo”, uma resposta à expansão das novas tecnologias
27/05/2025
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*Foto: Divulgação Os Satyros
Por redação AIoT Brasil
Sai de cartaz na quinta-feira, 29, a “Peça para salvar o mundo”, montada pelo grupo paulistano Os Satyros em seu teatro na praça Roosevelt, no centro da capital. O espetáculo, acompanhado do Manifesto Tecnofágico, utiliza ferramentas de inteligência artificial para desenvolver o que foi chamado de teatro ciborgue, sem atores no palco, em que a narrativa é conduzida por avatares interativos, manipulados em tempo real pela atriz Mariana Leme (fora de cena) e pelo designer de IA generativa Thiago Capella.
A peça foi idealizada e escrita por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, que também assina a direção, e é uma coprodução entre Os Satyros e a Circulus Opera. O enredo se concentra em uma máquina programada para salvar a humanidade da autodestruição e, para isso, precisa colher informações do público. Os avatares, então, se comunicam por meio de diferentes personas — homens, mulheres e crianças em presença virtual — que tentam aprender a sentir em conversas com os espectadores.
Em entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo, Rodolfo Vázquez explicou: “Se a gente não tiver uma relação com a tecnologia, ela vai nos engolir. Então, temos que engolir ela antes. Temos que engolir a tecnologia e não a negar, porque ela a cada dia invade mais a nossa vida. E, se a gente não se relacionar com ela, vamos nos tornar obsoletos”.
Na montagem, Thiago Capella combinou dez softwares de IA para reproduzir movimentos e sons do avatar que conduz o espetáculo: “É importante dizer que tudo o que acontece é gerado por Mariana Leme, desde os movimentos e as intenções vocais até as expressões corporais e faciais. O que a IA trabalha é a transcodificação desse conteúdo para a tela, para a projeção que o público vê”, disse o designer à Folha.
Mariana, por sua vez, contou que suas falas e seus movimentos são captados por equipamentos que ficam em uma sala distante do palco, onde são transformados pela IA no avatar que conversa com o público. “Estamos aprendendo a fazer esse teatro novo, e uma das questões é que preciso estar atenta a tudo. Por exemplo, preciso criar desenhos físicos do meu corpo como se fosse um robô”, disse a atriz.
O Manifesto Tecnofágico dos Satyros envolve dez questões, a começar por esta: “Nosso ponto de partida é o Brasil – mas um Brasil em transe tecnológico. Aqui, nesse chão híbrido tropical, emergem contrafeitiços, gambiarras, melodias e formas de resistência que nos fazem dançar com as máquinas”. E prossegue: ”Somos criadores da máquina, mas como artistas nunca seremos suas criaturas. A técnica nasce de mãos humanas, de corpos sensíveis. Somos atravessados pelas máquinas, mas nunca vamos nos submeter a elas”.
Na quinta declaração do manifesto, o grupo afirma: “Nada é mais humano do que um robô tupiniquim. Toda IA é fruto de um esforço coletivo da humanidade. Nossa tecnologia tupiniquim carrega o peso de toda a violência de nossa história. Reconhecer isso nos liberta para construir uma tecnoarte viva”.
As últimas apresentações da peça ocorrerão amanhã e na quinta-feira, às 20h30, no Espaço dos Satyros (praça Roosevelt, 214, Consolação), para maiores de 14 anos, com ingressos a R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia).