*Foto: a imagem dos “músicos” também foi criada por IA/Reprodução Facebook

Por Ricardo Marques da Silva

Com mais de 1,1 milhão de audições mensais no Spotify, a banda The Velvet Sundown (algo como “O pôr do sol de veludo”) surgiu há poucas semanas como um fenômeno, mesmo sem que ninguém conhecesse seus quatro integrantes. Além disso, nenhum dos músicos havia dado entrevistas e todas as informações a respeito do grupo foram divulgadas por um porta-voz chamado Andrew Frelon, também desconhecido no mercado musical.

Como nada disso é comum, logo surgiram boatos e suspeitas de que, por trás da Velvet Sundown, estava a IA, em mais um episódio de uma longa série que vem perturbando os profissionais da área. O caso ganhou destaque na mídia e atraiu a atenção de grandes veículos, como a BBC britânica, que na semana passada publicou uma reportagem na qual a professora Gina Neff, do Centro Minderoo de Tecnologia e Democracia da Universidade de Cambridge, observou: “Se essa é ou não uma banda de IA pode não parecer importante. Mas, cada vez mais, nossa compreensão coletiva da realidade parece instável. A história do Velvet Sundown explora os medos que temos de perder o controle da IA ​​e mostra a importância de proteger nossas informações online”.

A BBC procurou o Spotify para verificar se a banda viral era mesmo uma IA, sem receber retorno, mas logo em seguida, no sábado, dia 5, a revista de música Rolling Stone confirmou “oficialmente” as suspeitas. De fato, os próprios responsáveis pelo grupo adicionaram essa informação à “biografia” no Spotify.

“The Velvet Sundown é um projeto de música sintética guiado pela direção criativa humana e composto, dublado e visualizado com o suporte de inteligência artificial. Isso não é um truque – é um espelho, uma provocação artística contínua projetada para desafiar os limites da autoria, da identidade e do futuro da própria música na era da IA”, afirmaram. Antes, o falso porta-voz chegou a dar uma entrevista à Rolling Stone, por telefone, em uma estratégia de confundir e testar a mídia.

No Spotify, o texto da nova biografia da banda esclareceu: “Todos os personagens, histórias, músicas, vozes e letras são criações originais geradas com o auxílio de ferramentas de IA empregadas como instrumentos criativos. Qualquer semelhança com lugares, eventos ou pessoas reais – vivas ou falecidas – é mera coincidência e não intencional. Não é exatamente humano. Não é exatamente máquina. The Velvet Sundown vive em algum lugar no meio disso”.

Em entrevista à Rolling Stone, Glenn McDonald, que trabalhou no Spotify, disse que a popularidade da banda de IA provavelmente se deve ao fato de o serviço de streaming agora aceitar pagamentos para impulsionar a inclusão em playlists. Enquanto isso, o CEO do Spotify, o sueco Daniel Ek, havia dito à BBC que não pretendia banir músicas geradas por IA, mas acrescentou que não concordava em usar a tecnologia para imitar artistas reais.