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Dos primeiros celulares à internet das coisas

Guilherme Spina, CEO da V2com, conta como sua companhia usa tecnologias como a IoT, 5G e robótica para conectar dispositivos e impulsionar os negócios de grandes empresas

14/04/2023

Dos primeiros celulares à internet das coisas
*Crédito da imagem: V2com dos celulares a IoT
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Por René Ribeiro

Guilherme_Spina V2Com

Guilherme Spina : fundador e CEO da V2Com

A V2Com é uma das principais companhias do Brasil no desenvolvimento de sistemas inteligentes, incluindo hardware e software, para conectar dispositivos remotos. Usando a IoT, seus sistemas automatizam processos, mensuram dados, previnem fraudes, entre muitas outras soluções.

Ela faz parte do grupo WEG, que  atua em 12 países e desenvolve soluções voltadas a eficiência energética, energias renováveis e mobilidade elétrica. Mas, a caminhada da V2Com começou desde a chegada dos primeiros celulares no Brasil. Conheça a história da empresa que hoje é referência nacional e internacional na área de IoT, contada pelo seu fundador, Guilherme Spina.

Como surgiu a v2Com – em quais necessidades do mercado vocês perceberam que podiam ajudar?

Bom, então vamos desde o início: eu entrei na faculdade em 1990 onde cursei engenharia elétrica. Nessa época, havia zero celulares no Brasil. Mas, em meados do ano 2000, o número de celulares já chegava a cerca de 80 milhões de unidades no país. E eu já trabalhava em uma operadora de celular chamada Tess, depois comprada pela Claro. Então, a rede de celular foi um fenômeno dos anos 90, onde eu acompanhei a tecnologia.

E a visão dos dirigentes da Tess (suecos), já estavam bem à frente do tempo naquela época: eles já previam que a voz iria virar um commodity, mas a rede celular vai estar em todos os lugares. E o que a gente pode fazer, além do serviço de voz: propaganda baseada em localização, chats, carteiras digitais (transações financeiras), entre outros. Portanto, no início do ano 2000, a visão do que podia ser feito com a rede celular já estava definida, mas a tecnologia não estava pronta. 

E um dos avanços do que poderia ser feito era usar a rede celular para telemetria (conectar equipamentos que estão remotos). Quando foi estruturada a unidade de novos negócios na Tess, a Claro comprou a empresa, mas o projeto ficou em pausa. Foi quando eu saí da empresa e resolvi estudar telemetria e montei a V2Com em 2002. E começamos com o objetivo de usar a rede celular para conectar dispositivos remotos que fazem parte de algum processo de negócio que estava sendo executado de uma forma manual.

E como funciona o negócio automatizado de telemetria usando a rede celular?

Quando iniciamos a V2Com, havia muitas oportunidades de usar a telemetria para ajudar as empresas. Um de nossos primeiros clientes foi a empresa de saneamento de água de Campinas. A rede de distribuição tem uma série de bombas para fazer a água ir para lugares elevados e uma série de válvulas para redução de pressão.

E um dos problemas era que as válvulas podem estourar, ou mesmo ter um problema nas bombas, o que causava vazamentos. Então a empresa tinha equipes volantes que ficavam rodando a cidade para verificar se tinham vazamentos. Então, instalando sensores, o processo era automatizado, onde os sensores enviam alarmes para a central de água por meio de rede celular. 

Citando outros exemplos, também fizemos monitoramento de tanques de produtos químicos, postos de combustível e estações ambientais. Nesse último, fizemos um um projeto em conjunto com a Petrobrás, para monitorar estações ambientais no litoral do Brasil, para levantar o regime dos ventos, para mapear os melhores lugares para implantar infraestrutura de energia eólica.

Mas crescemos mesmo em 2004, quando entramos no setor elétrico, no qual nossos clientes são as distribuidoras de energia, e que é nosso principal negócio hoje em dia.

Como a V2Com conquistou esse mercado de energia elétrica?

Uma das dores que resolvemos das distribuidoras de energia foi solucionar a fraude, tanto no medidor de energia, quanto na instalação. O medidor de energia (“que é uma coisa”, da Internet das Coisas) é a solução para medir energia, mas fica em uma caixa insegura. Então a V2Com criou uma solução conectando a caixa de energia com software embarcado e diversos sensores. São diversos tipos de sensores: alguns avisam se a porta da caixa de medição está aberta, lacrada, ou fechada. Outros “avisam” o sistema se a energia está chegando em todas as fases da instalação do cliente. E, como o sensor “sabe” para onde vai a energia, fica fácil encontrar também quem está fraudando.

E essa solução é escalável, no qual podemos expandir os sensores e customizar o software para resolver outros problemas ou até implementar melhorias. Por exemplo, em empresas, onde é o nosso ponto forte, não é mais necessário ir uma pessoa para medir o consumo de energia. Um sensor já faz isso, que passa o valor medido por rede celular à distribuidora de energia. E como tudo é medido via software, a empresa tem total controle do consumo de cada maquinário e assim saber exatamente onde e qual setor está usando mais energia e fazer uma gestão melhor de consumo.

Importante dizer que isso ainda não foi levado às residências. Mas, no futuro isso será de grande valor tanto para as distribuidoras de energia, quanto para os consumidores. Só para ter uma ideia, hoje o Brasil tem pouco mais de 90 milhões de medidores. E grande parte deles ainda é uma pessoa que vai até a residência fazer a leitura.  

Ainda há outras soluções, como na parte de distribuição, na qual melhoramos a qualidade do fornecimento, por reduzir a interrupção de energia. Quando uma rede elétrica sofre uma pane, nossos sensores e atuadores já atualizam a distribuidora indicando a região onde houve corte. E imediatamente já é acionada a equipe de manutenção.  Enfim, na área comercial, de faturamento e leitura, melhoramos o processo de automação e eliminamos a fraude. E na parte de distribuição melhoramos a qualidade do fornecimento, diminuindo muito o tempo de interrupção.

Pode citar alguns números dessas conquistas no setor elétrico?

Em 2009, a empresa ganhou a concorrência para telemedição de 450 religadores na CPFL, maior companhia privada do setor elétrico brasileiro. No ano de 2012 a empresa ganhou a concorrência para o fornecimento de solução para a telemedição dos grandes clientes (7.500 clientes) na Elektro. E, em 2019, a V2COM deu mais um grande passo, passando a ter o Grupo WEG como sócio majoritário. Já que falou em números, vale citar também um pouco sobre a WEG. Ela começou no Brasil em 1961, produzindo soluções em máquinas elétricas. E atualmente tem operações industriais em 12 países e presença comercial em mais de 135 países, com mais de 36.900 colaboradores distribuídos pelo mundo. E se destaca em inovação pelo desenvolvimento constante de soluções para atender as grandes tendências voltadas a eficiência energética, energias renováveis e mobilidade elétrica. Assim, essa sociedade foi importante para expandir o acesso a outras verticais e mercados.

A V2Com realizou um projeto chamado Open Lab 5G. O que seria esse projeto para a IoT, dentro das soluções de automação?

Bom, a V2Com nasceu com o propósito de usar as redes de comunicação sem fio para conectar dispositivos remotos. E nossa ambição é conectarmos o maior número possível, já que o 5G oferece uma capacidade muito maior do que o 4G, não apenas em velocidade, mas em largura de banda e divisão de faixas dentro de um único ambiente, oferecendo muitas possibilidades. 

Então, o Open Lab 5G foi um projeto feito em uma das fábricas mais automatizadas da WEG.  O principal objetivo foi testar a conectividade de diversos dispositivos IoT à rede 5G em um ambiente real de produção na fábrica da WEG Drives & Controls, localizada em Jaraguá do Sul (SC), para avaliar a viabilidade de conexão nessa nova tecnologia e identificar os benefícios que podem ser obtidos com a transição para o 5G.

Os testes verificaram três grupos de casos de uso: Internet das Coisas (IoT) industrial, robótica e dispositivos inteligentes, a partir de três indicadores, que são o Throughput (velocidade de transmissão de dados), a densificação de malha de conexões (comparando 5G e Wi-Fi) e a confiabilidade de conectividade 5G em ambiente indoor.

Conseguimos validar os parâmetros de limites físicos definidos pela Anatel, suportando a regulamentação das faixas de frequência dedicadas ao 5G. Para citar um exemplo de um dos testes, na aplicação de robótica, nós conectamos robôs logísticos e as esteiras inteligentes que interagem com eles no transporte de equipamentos.

A comunicação, realizada com o 5G, superou pontos escuros que o Wi-Fi não poderia atender, levando maior assertividade e menor tempo de resposta para as decisões tomadas pelo robô. Enfim, o relatório final do projeto mostrou que a quinta geração móvel oferece, para aplicações industriais, desempenho superior ao Wi-Fi atualmente utilizado, com maior confiabilidade, cobertura de rede e capacidade de maior densificação da malha de conexões.

Para finalizar, qual o maior desafio para infraestrutura de TI para a implantação de soluções de Internet das Coisas?

A internet chegou para conectar computadores e pessoas do mundo inteiro. Mas, com a chegada da IoT, onde qualquer coisa pode ser conectada à internet e entre elas mesmas, as possibilidades de automação aumentaram muito. É possível automatizar tudo, desde programar uma torradeira para ligar logo de manhã (ligada a uma tomada inteligente), até automatizar máquinas de grandes indústrias.  Então, o maior problema é fazer a conexão de sistemas legados de TI, porque eles foram projetados para funcionarem de forma independente.

Assim, quando você começa a interligar sistemas legados, há uma limitação de hardware e software. No exemplo de medição de energia, o sistema de recebimento de dados dos clientes não está dimensionado para a velocidade e quantidade de informação que os sensores e banco de dados podem enviar às concessionárias. Por exemplo, um novo sistema pode enviar mais de 10 mil medições por vez para a central em poucos segundos. Mas o sistema instalado não tem capacidade para isso e acaba travando. 

Fazer essa migração requer escalonar, balancear, ajustar e adaptar os protocolos de comunicação em todo o sistema legado, para que se faça a integração dessa carga de dados de forma resiliente e de forma que os sistemas existentes não sofram interrupção nesse processo de transformação.

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