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06/03/202507/03/2025
Por Ricardo Marques da Silva
“Vá lá e baixe o Le Chat, que é feito pela Mistral, em vez do ChatGPT da OpenAI ou outra coisa qualquer”: esse foi o convite feito por Emmanuel Macron, presidente da França, durante uma entrevista à TV no evento AI Action, realizado em Paris há menos de um mês. Não se sabe até que ponto o apelo do governante produziu efeito, mas o certo é que em apenas 20 dias, desde o seu lançamento em 6 de fevereiro, ocorreram mais de 1 milhão de downloads em dispositivos móveis do assistente criado pela startup francesa Mistral AI.
Esse desempenho é respeitável, embora ainda longe dos números obtidos pelo ChatGPT e até mesmo pelo DeepSeek, que chegou em janeiro. De qualquer forma, serviu para chamar atenção e mostrar ao mundo que o mercado de IA está cada vez mais disputado e vai além das big techs dos Estados Unidos e da China.
Para mostrar que a Europa também é ativa nessa área, a Mistral AI surgiu em 2023, autodefinindo-se como “o laboratório de IA independente mais sustentável do mundo”, e em pouco tempo despertou o interesse de grupos de investidores. No mesmo ano, ainda antes de lançar seus primeiros modelos de IA, a startup levantou uma rodada inicial recorde de US$ 112 milhões liderada pela Lightspeed Venture Partners. Na época foi avaliada em US$ 260 milhões.
Seus fundadores têm sólida experiência em pesquisa de IA em grandes empresas de tecnologia norte-americanas: o CEO Arthur Mensch havia trabalhado na DeepMind, do Google, enquanto o CTO Timothée Lacroix e o cientista-chefe Guillaume Lample atuaram na Meta. Logo a Mistral foi apontada como uma das startups de tecnologia mais promissoras da França, capaz de competir com os gigantes do Vale do Silício, e promoveu parcerias importantes.
Uma delas foi fechada em 2024 com a Microsoft, para a distribuição dos seus modelos de IA por meio da plataforma Azure. Em 2025, assinou um acordo com a France-Presse (AFP) para permitir que o chatbot consultasse todo o arquivo de texto da agência de notícias desde 1983. A Mistral AI também firmou parcerias estratégicas com o exército francês, a agência de empregos do país, a startup alemã de tecnologia de defesa Helsing, a IBM, a Orange e a Stellantis.
Com isso, surgiram novos financiamentos, somando uma capitalização total que superou US$ 1 bilhão até agora, o que permitiu que a Mistral desenvolvesse outros modelos de IA além do Le Chat – que pode ser baixado no Google Play e na Apple Store.
Foram criados também o Mistral Large 2, um grande modelo de linguagem que substituiu o Mistral Large; o multimodal Pixtral Large; o Codestral, uma IA generativa para código; o Les Ministraux, uma família de modelos otimizados para dispositivos de ponta, e o Mistral Saba, em árabe. A maioria das ofertas da Mistral AI é gratuita, mas em fevereiro a startup lançou o plano Pro do Le Chat por US$ 14,99 mensais.
Embora ainda seja cedo para calcular os próximos passos da Mistral, já se fala na possibilidade de abertura de capital. De qualquer maneira, a startup francesa está sendo avaliada em US$ 6 bilhões, o que seria impensável até pouco tempo atrás para uma empresa de IA europeia.
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