Por Ricardo Marques da Silva

Em uma pesquisa feita em 2024 pelo Sainsbury’s Bank, 37% dos entrevistados que usaram IA para ajudar a planejar suas viagens relataram que o bot não fornecia informações suficientes e 33% disseram que as recomendações continham erros. Há casos de turistas que foram vítimas dos mais diferentes tipos de problemas, alguns relativamente simples, como horários errados de fechamento de atrações, outros mais complicados, como a descrição de lugares inexistentes ou perigosos.

O estudo mostra que entre as pessoas que já adotam a IA para buscar viagens no Reino Unido (30% do total dos viajantes), a preferência é pelo ChatGPT, com 45%, seguindo-se ferramentas especializadas na área, com destaque para o Roam Around (27%), o Tripnotes (26%) e o Guide.com (25%). Apesar dessa adesão, o Sainsbury’s Bank advertiu: “Embora a IA possa ser um planejador de viagens eficiente, nem todos estão prontos para deixar suas férias exclusivamente nas mãos de um agente de viagens digital. É compreensível: a IA é uma tecnologia emergente e, dependendo da ferramenta ​​usada, nem todas as informações estão corretas ou atualizadas”.

A necessidade desse alerta foi confirmada por uma reportagem da BBC britânica publicada na segunda-feira, segundo a qual os viajantes que usam IA para criar itineráios devem ficar “extremamente vigilantes e verificar tudo antes de comprar as passagens”. Como exemplo, o texto citou uma situação extrema, em que dois turistas comentavam a respeito do plano de caminhar sozinhos nas montanhas até o “cânion sagrado de Humantay”, no Peru.

Um peruano que ouviu a conversa pediu para ver a captura de tela da IA, “escrita com confiança e cheia de adjetivos vívidos”, mas indicando um lugar que não existe. Na verdade, o nome era a combinação de duas localizações, sem nenhuma relação com a descrição da IA, mas os turistas pagaram US$ 160 para chegar a uma estrada rural nos arredores de Mollepata, sem guia.

O peruano que orientou os turistas lembrou que esse erro aparentemente inocente poderia ter custado a vida deles. “Esse tipo de desinformação é perigoso no Peru. A altitude, as mudanças climáticas e a acessibilidade das trilhas precisam ser bem planejadas. Quando você usa um programa como o ChatGPT, que combina imagens e nomes para criar uma fantasia, pode se perder a uma altitude de 4 mil metros sem oxigênio e sem sinal de celular”, disse.

A BBC relacionou outros casos de desinformação da IA, entre os quais o de um casal chinês que usou o ChatGPT para planejar uma caminhada até o topo do monte Misen, na ilha japonesa de Itsukushima, no início deste ano. Eles partiram às 15 horas para caminhar até o cume da montanha a tempo do pôr do sol: “Foi aí que o problema apareceu. Quando estávamos prontos para descer, o teleférico já estava fechado, embora o ChatGPT tenha dito que a última descida seria às 17h30. Então, ficamos presos no alto da montanha”, contaram.

Outra situação desagradável ocorreu com a ferramenta de IA Layla, que sugeriu uma visita a uma inexistente Torre Eiffel em Pequim e uma rota de maratona totalmente inviável pelo norte da Itália. Segundo a BBC, isso acontece porque os chatbots analisam conjuntos imensos de textos, reunindo palavras e frases que, estatisticamente, parecem respostas apropriadas. Às vezes fornecem informações perfeitamente precisas, mas também ocorre o que os especialistas chamam de “alucinação”, quando as IAs apenas inventam coisas.

O melhor, de acordo com os especialistas, é ser o mais específico possível nas consultas e verificar absolutamente tudo. Se uma ferramenta de IA der uma sugestão de viagem que pareça surpreendente ou perfeita demais, convém confirmá-la por meio de outras fontes. No final, lembrou a BBC, o tempo gasto na verificação das informações das IAs pode, em alguns casos, tornar o processo tão trabalhoso quanto planejar à moda antiga.